Por Ana Caroline dos Santos
Terapeuta Ocupacional e Diretora Clinica da Acompanhart
Ser terapeuta ocupacional foi uma escolha que fiz há 17 anos, quando eu tinha 20 anos de idade e estava buscando uma profissão que me realizasse ajudando outras pessoas. Eu sabia que seria na área da saúde para fazer a diferença na vida de pessoas que passam por alguma enfermidade. Esse era meu foco, mas ainda não tinha me identificado com nenhuma profissão tradicional.
A primeira vez que escutei sobre essa profissão foi em uma orientação vocacional que realizei na Puc-Minas com uma estagiária de psicologia e me encantei. Eu não conheci ninguém que tinha essa profissão e sem pensar duas vezes defini o meu objetivo: era uma vaga em terapia ocupacional UFMG. Esse processo demorou 3 anos. Em 2003 recebi o telegrama mais feliz da minha vida, estava com a minha vaga garantida neste curso.
Foram cinco anos em período integral de aulas estágios, alguns momentos bons no qual eu entendia perfeitamente a especificidade desta profissão e vários outros, complexos, permeados de dúvidas e incertezas. Que tarefa árdua entender a identidade desse profissional meio a tantas outras profissões! Demorou alguns anos para que tivesse clareza e discernimento para explicar ao outro o que era terapia ocupacional e me fazer entender.
Segundo publicação da USP-Universidade de São Paulo, Terapia Ocupacional é:
“Um campo do conhecimento e de intervenção em saúde, educação e na esfera social, reunindo tecnologias orientadas para emancipação e autonomia das pessoas que por razões ligadas a problemáticas especificas físicas, sensoriais, mentais, psicológicas e/ou sociais, apresentam, temporariamente ou definitivamente, dificuldade na inserção e participação na vida social. As intervenções em Terapia Ocupacional dimensionam se pelo uso da atividade, elemento centralizador e orientador, na construção complexa e contextualizada do processo terapêutico”.
Muitas vezes, as pessoas confundem atividade prazerosa ou mesmo manual como terapia ocupacional. Entendo que a população de uma forma geral, tenha motivo para tal. Em alguns momentos a mídia, de uma forma inadequada, cita a profissão Terapia Ocupacional de forma pejorativa e impropriada.
Por exemplo: Quando as pessoas que possuem alguma disfunção física ou psíquica não estão conseguindo desempenhar seus papéis ocupacionais e suas atividades de vida diária, como trabalhar, ter momentos de lazer e realizar o seu autocuidado, ela é perfil para a terapia ocupacional.
Nossa ferramenta de trabalho é a atividade como recurso terapêutico. O Terapeuta ocupacional realiza a avaliação sobre a atividade de uma forma muito diferente do senso comum. Nós realizamos uma análise da tarefa antes de indicar, avaliando inúmeras possibilidades. Uma atividade mal indicada pode trazer prejuízos desde financeiros, até emocionais. Esta análise de atividade terapêutica avalia os diversos contextos culturais, familiar, espiritual, temporal, bem como o histórico ocupacional, as habilidades funcionais, viabilidade financeira e principalmente o objetivo final da tarefa. Não temos a intenção de ocupar para não deixar a pessoa ociosa. Não. A ocupação humana é muito relevante e necessária, vai muito além de acabar com a ociosidade.
Para garantir que você compreendeu a importância deste profissional na vida de pessoas que necessitam de cuidados, vou detalhar um pouco mais, como atua o profissional de Terapia Ocupacional.
Durante a graduação aprendemos atender em diversas áreas como saúde mental, desenvolvimento infantil, saúde do trabalhador, geriatria, disfunções físicas e outros. Eu me especializei em saúde mental e contextos sociais.
Sobre a área de saúde mental, o terapeuta ocupacional atender pessoas com transtornos mentais, nosso papel é favorecer a reconstrução do cotidiano de uma forma mais produtiva e aumentando a participação no território/comunidade.
Vou dar um exemplo de intervenções possível que a introdução ou retorno ao mercado de trabalho/atividade produtiva, que nem sempre, precisa ser remunerada, pois também temos o voluntariado como opção. Para realizar esta reinserção é necessária uma indicação minuciosa de uma atividade na qual abrange os potenciais da pessoa e detalhadamente das necessidades do cargo, uma avaliação global que vai desde o deslocamento a atividade fim. Muitas vezes uma carga horária diminuída e outras flexibilidades sejam necessárias para a adaptação, o profissional de terapia ocupacional é de extrema importância nesta interação entre a empresa e o candidato no caso de pessoa com transtornos mentais.
O trabalho dignifica todo ser humano. O sentimento de utilidade e estar contribuindo com a comunidade é fundamental.
Espero que tenham entendido a relevância da dimensão ocupacional humana que a terapia ocupacional explora. Obtemos como resultado do tratamento o restabelecimento da autoestima, auto reconhecimento, da convivência e a reapropriação do papel social pelas pessoas que possuem alguma disfunção.
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